A palavra “réquiem” provém do
vocábulo latino “requiem”, uma derivação de “requies”, que significa descanso
ou repouso. Este termo designa habitualmente as celebrações cristãs realizadas
em homenagem aos defuntos. O nosso propósito é, por conseguinte, prestar
homenagem a um espaço cultural de enorme mérito, que subsistiu na nossa
comunidade ao longo de mais de 20 anos.
O Museu da Imagem foi um espaço
cultural, que nasceu no edifício da antiga farmácia Alvim e num antigo torreão
da fortificação medieval contíguo, inaugurado a 25 de abril de 1999, destinado
à realização de exposições de fotografia e à conservação e inventariação dos
arquivos fotográficos das antigas casas de fotografia Aliança e Pelicano.
Este equipamento cultural, realizado por iniciativa dos executivos liderados por Francisco Mesquita
Machado, inseria-se numa particular dinâmica que a cidade e os seus agentes
culturais foram gerando em torno da fotografia, e que confirmariam Braga como um
dos principais lugares da Imagem em Portugal.
Ao longo de quase década e
meia, o técnico-superior do Museu da Imagem foi Rui Prata, desenhando uma
programação meritória, que conciliava a fotografia contemporânea – destacando-se
particularmente os Encontros da Imagem - com a inventariação progressiva do
espólio fotográfico, através da realização de exposições e da publicação dos
respetivos catálogos. Desde 2013 que o edifício revelava diversas fragilidades
ao nível das coberturas e do isolamento, tendo até sido colocado em risco a
conservação do seu espólio fotográfico, como seria oportunamente denunciado
pela investigadora Catarina Miranda Basso.
Apesar do vereador responsável
pelo Pelouro da Cultura, entre 2013 e 2021, continuamente inserir como
prioridade do seu plano anual de atividades a empreitada de reabilitação do
Museu da Imagem, também incessantemente esse desiderato era barrado no
gabinete-mor da edilidade. Aquele espaço museológico permaneceria aberto até ao
derradeiro trimestre de 2019, momento em que as infiltrações e as condições de
segurança já não permitiam que continuasse em atividade. Desde essa data
permanece encerrado, sem data prevista para reabrir.
Todos os anos, por ocasião da
discussão das Grandes Opções do Plano, é notícia o presumível investimento da
Câmara Municipal de Braga no Museu da Imagem, mas todos os anos também não é
iniciado qualquer procedimento concursal nesse sentido, como, aliás, vai
sucedendo com a musealização da Ínsula das Carvalheiras ou da Estação
Arqueológica de Santa Marta das Cortiças, entre outros.
Entretanto, logo após as
restrições provocadas pela pandemia de covid 19, também a Torre de
Menagem encerraria ao público, supostamente devido à necessidade de
substituição de vigas madeira de alguns degraus interiores, desperdiçando-se a
exposição permanente sobre a história da cidade de Braga, ali instalada desde
2017. Uma empreitada demasiado simples e módica para justificar três anos de
encerramento.
Recentemente também a Casa dos
Crivos, única galeria municipal, encerraria as suas portas, mais uma vez para
serem realizadas obras de reabilitação. Terá o mesmo destino que o Museu da
Imagem? Como é possível que os três espaços de exposição geridos pela Divisão
de Cultura da Câmara Municipal de Braga estejam encerrados em simultâneo? Quão
grande é a apatia e alheamento da sociedade civil e dos partidos políticos
quanto à realidade da nossa cidade?
Considerando os adiamentos
contínuos da empreitada de reabilitação do Museu da Imagem, aliado ao facto de,
no presente mandato, a pasta da Cultura ser da responsabilidade do principal
agente pelo seu encerramento, podemos concluir que dificilmente a situação se
alterará.
A deliberação que se vai
entrevendo é, certamente, mais um motivo para justificar por que Braga não foi
escolhida para ser a próxima sede portuguesa da Capital Europeia da Cultura.
Uma cidade que ostensivamente encerra os seus espaços culturais, ou que
desperdiça equipamentos adquiridos com essa finalidade, para nele ser edificada
uma residência universitária, não merece tal distinção.
Perante os indícios que nos têm
sido continuamente oferecidos pela Câmara Municipal de Braga, não nos resta
outra alternativa senão agradecer todos os contributos que foram oferecidos
pelo Museu da Imagem à dinâmica cultural da cidade de Braga, ao longo de duas
décadas, e celebrarmos um Réquiem por mais um espaço cultural bracarense. R. I.
P.
Rui Ferreira
Presidente da Direção da Braga Mais